Os últimos estudos sugerem que permanecer sentado durante o trabalho pode causar problemas cardiovasculares ou deixar o corpo vulnerável à diabetes. E muitas pessoas não tem como resolver esses problemas com prática de exercícios em academias.
A cultura de conforto no espaço doméstico também ajuda pouco quando se tenta evitar um estilo de vida sedentário. Uma solução seria buscar novas concepções no que concerne o espaço de trabalho, buscar formas de reduzir o tempo em que o trabalhador permanece sentado.
Esse desafio significa repensar a arquitetura, ter dinheiro para investir nisso e tentar mudar a rotina de trabalho. O investimento é caro. Só as mesas ajustáveis que permitem trabalhar sentado ou de pé podem custar centenas de dólares.
O modelo atual comum, de fileiras de mesas de trabalho, que tem a vantagem de economizar espaço, não serve para os empregadores que querem um estilo mais ativo.
Energia e criatividade
Os que defendem um tempo maior de pé durante o trabalho afirmam que esta nova forma de trabalhar é benéfica não apenas para a saúde, mas também para a energia e criatividade dos funcionários. E muitas grandes companhias estão começando a levar a sério estas afirmações.
A gerência das instalações da companhia americana GE na Grã-Bretanha está considerando a possibilidade de dar uma escolha aos funcionários. “Sabe-se cada vez mais que períodos longos de comportamento sedentário têm um efeito adverso para a saúde, então estamos tentando introduzir mesas para (os funcionários ficarem) em pé”, disse o engenheiro da GE Jonathan McGregor.
Preços
Os preços podem variar, mas uma mesa que permita trabalhar em pé geralmente custa mais do que as mesas convencionais.
Na Grã-Bretanha, por exemplo, empresas cobram entre 500 libras (quase R$ 1,9 mil) e 400 libras (quase R$ 1,5 mil) por cada uma destas mesas quando são feitos pedidos de 50 ou mais unidades. O preço de uma mesa normal é de 172 libras em média (R$ 642).
Além da diferença do custo, há também outra questão: as pessoas precisarão escolher se vão ficar sentadas ou em pé. Obrigar os funcionários a ficar em pé pode prejudicar o moral no local de trabalho.
Alan Hedge, especialista em ergonomia é cético em relação a este tipo de mudança entre os trabalhadores. Alguns simplesmente vão querer continuar sentados e os que tiverem mesas ajustáveis poderão ter desentendimentos com os que permanecem sentados.
Hedge acredita que os chefes deveriam estimular os funcionários a se mover mais dentro do escritório. “Precisamos tratar a experiência de trabalhar sentado como a de dirigir. É preciso fazer pausas regularmente”, afirmou.
Conceito
O conceito de permanecer sentado em um local de trabalho é uma inovação recente, segundo Jeremy Myerson, professor de design no Royal College of Art. “Se você analisar o final do século 19”, disse o professor, os escrivãos vitorianos podiam ficar em pé em frente às suas mesas “e se moviam muito mais”.
“É possível ver o escritório industrial dos últimos cem anos como uma espécie de aberração na trajetória dos hábitos de trabalho dos últimos mil anos, quando sempre nos movimentamos”, acrescentou.
O que mudou tudo no século 20 foi o modelo de produção chamado de “taylorismo”, quando estudos de uso de tempo e movimentação foram aplicados ao trabalho de escritório. “É muito mais fácil supervisionar e controlar as pessoas quando elas estão sentadas”, disse Myerson.
O professor sugere que, nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, há uma “tendência de tratar o projeto do local de trabalho como custo e não como investimento”.
O professor lembra que é preciso dar uma escolha aos funcionários, ao invés de simplesmente obrigá-los a ficar em pé. “Muitas pessoas sentem que ter sua própria mesa e cadeira é um símbolo de segurança e status no trabalho”, disse.
Mesa mais alta
Quando o apresentador da BBC Chris Bowlby resolveu colocar isto em prática, ele precisou ocupar um canto mais afastado do escritório, que pudesse acomodar uma mesa mais alta – que não tinha sido projetada para o trabalho regular – para poder trabalhar de pé.
“Consegui apenas encontrar uma mesa fixa mais ou menos da minha altura, usada para trabalhos específicos, técnicos. A conexão do computador era ruim e não havia um telefone. Me disseram que mudar tudo isso sairia caro”, disse.
“Gurus do designer falam muito sobre a tecnologia móvel liberando os trabalhadores. Mas, para muitos, a necessidade de um computador e de uma linha fixa ainda funciona mais como uma amarra”, acrescentou o jornalista.
Bowlby afirma que, depois de algumas dores iniciais, ele começou a se acostumar com o trabalho em pé, voltar a se sentar em uma cadeira parecia mais apertado do que antes.
“Mas, enquanto estava em pé, fiquei distante de meus colegas, a maioria deles se perguntando o que será que eu estava fazendo.”
FONTE: BBC BRASIL